
Gaúcho de Santo Ângelo, 46 anos, Helmute Augusto Lawisch ficou conhecido no meio político após ser candidato a deputado federal. Agricultor da região de Lucas do Rio Verde, gremista, apaixonado por futebol, se tornou em oito anos, um dos mais influentes dirigentes de clubes de Mato Grosso e há pelo menos cinco anos, luta para levar a sua equipe, o Luverdense, à Série B do Campeonato Brasileiro.
O que pouca gente sabe é que antes de ser político e cartola, Helmute ganhou a vida tocando violão. Nesta entrevista exclusiva, Helmute se mostra ainda mais ‘politizado’, mas se contradiz. Ao mesmo tempo em que defende a modernização do futebol, evita criticar e até defende a ultrapassada gestão da Federação Mato-grossense de Futebol e acha que os clubes não precisam cobrar da TV para ter seus jogos transmitidos ao vivo.
É verdade que antes de ser presidente do Luverdense o senhor ganhou a vida como músico?
Sim. Já ganhei a vida tocando violão. Ganhei meu primeiro violão com 12 anos, influenciado por alguns tios que eram músicos. Dos 16 aos 19 anos toquei em bares e bandas de baile. Em 1984, após cursar o primeiro ano de agronomia em Santa Maria (RS), vim para Mato Grosso para conhecer a região e em 1987, após conseguir a graduação, mudei definitivamente para Lucas do Rio Verde e trouxe comigo minha esposa, minha grande companheira, guerreira.
Como o senhor entrou no futebol?
Entrei para o futebol no ano de 2004, ano da fundação do Luverdense Esporte Clube. Ao final de 2003, o Carlos Orione (presidente da FMF) esteve em Lucas do Rio Verde fazendo convite para que a cidade tivesse uma equipe de futebol profissional. O então prefeito municipal, Otaviano Pivetta, aceitou o convite e de pronto me convidou para que presidisse a equipe. Então em 24 de Janeiro de 2004, após uma reunião de amigos da sociedade, foi fundado o Luverdense e desde então presido o clube. Acho que desde então, venho fazendo um trabalho aceitável.
O que mudou desde então?
De lá pra cá muita coisa mudou. Em 2004 eu era apenas mais um agricultor no estado que sabia muito sobre soja, milho, algodão, suínos e de lá para cá aprendi um pouco sobre o futebol, de como o futebol profissional funciona. Andei por quase todo o Brasil fazendo contatos, cursos, sempre buscando aperfeiçoar ainda mais o meus conhecimentos, além de ter disputado junto com o Luverdense inúmeras competições. Por ser um presidente sempre muito presente, acredito que aprendi bastante. Sei que tenho minhas falhas, mas tenho uma grande convicção de tudo que já fiz nada vida, fazer futebol profissional, foi e é a coisa mais difícil.
Os clubes de Mato Grosso pagam para jogar há anos. Como o Luverdense
se sustenta?
Ao longo desses oito anos, o Luverdense sempre se manteve com sua grade de patrocinadores master, como também apoiadores locais que muito tem ajudado a equipe a seguir em frente. Além dos patrocínios master, contamos também com empresas locais que anunciam no estádio Passo das Emas através das placas de publicidade. E assim como todos os clubes, o Luverdense também recebe verbas da FMF via Governo do Estado. Em 2010 a equipe também realizou a venda de alguns atletas, o que também colaborou para manter um bom dinheiro em caixa.
Quais as suas ideias para o futebol mato-grossense
se tornar rentável?
Para o futebol de Mato Grosso voltar a ser rentável, é preciso vender o nosso peixe. A grande maioria das equipes tem investido em grupos de qualidade, fazendo um futebol bem jogado , exemplo que a poucos dias o Luverdense estava disputando o quadrangular a Série C, medindo forças com times de tradição, torcida e também de grandes capitais brasileiras (América de Natal, Paysandu e CRB). Mas, temos que nos valorizar e sermos entendidos pela opinião pública, que é um trabalho sério, fazer com que as pessoas acreditem na idéia. Além disso, é preciso termos um palco de qualidade para realizarmos jogos de expressão.
Os dirigentes de clubes, inclusive o senhor, apoiaram a proposta da FMF para um Estadual por pontos corridos em 2012. Os jogos de ida e volta num único grupo, num estado com dimensões continentais, exigem um fluxo de caixa por parte dos clubes, coisa que a maioria não tem. Por que a proposta foi aprovada, se economicamente é inviável?
Há algum tempo temos uma proposta de diminuir o número de clubes, e quem acompanha o futebol de Mato Grosso, sabe que o campeonato estadual já foi jogado com 20 clubes, depois passou para 16, 12, e hoje estamos com 10. Creio que com 10 clubes, há como fazer um campeonato de pontos corridos sim, pois entendo que os clubes que irão participar entendem que haverá recurso ao menos para suprir os custos destas viagens, haverá também repasse do Governo do Estado, como vem acontecendo a todos os anos. Mas os clubes devem ter um planejamento. A FMF inteligentemente elaborou a tabela com os jogos mais distantes para as primeiras rodadas e vamos ter um bom campeonato mato-grossense, independentemente de ser viável ou inviável.
A média de público em Lucas do Rio Verde também não está entre as melhores. Qual a explicação?
O público em Lucas do Rio Verde foi mais assíduo em anos anteriores, anos de início das atividades do Luverdense, principalmente nas primeiras participações na Série C do Brasileiro. Já tivemos por quatro ou cinco oportunidades o Passo das Emas lotado nas decisões de títulos (2004,2007,2009) e na Copa do Brasil em 2010. Nos jogos da Série C deste ano, tivemos uma média de duas mil pessoas, e espero que em 2012 o Luverdense faça uma boa campanha no mato-grossense e na Copa do Brasil em primeiro momento, pois sabemos que o público no estádio é reflexo das atuações da equipe em campo.
Qual a proposta feita pela afiliada da Rede Globo para a transmissão dos jogos de 2012 ? Já houve contraproposta dos clubes ?
A proposta referente a transmissão do estadual pela afiliada da Rede Globo está definida. Em conversa com outros presidentes, acordou-se até mesmo havendo a transmissão sem remuneração, já é de grande contentamento de todos, uma vez que a transmissão televisionada dá foco maior ao futebol de Mato Grosso e a opinião pública passa a saber que existe futebol profissional em Mato Grosso. A parceria foi feita por meio da venda da publicidade nos estádios para dias de jogos e a arrecadação com esta publicidade, será para os clubes dividirem.
Qual a sua opinião sobre a importância da Copa Mato Grosso para o calendário regional ?
A Copa Mato Grosso é muito importante, pois dá oportunidade para os clubes manterem um calendário de competições o ano todo. Como a regra da competição é ter basicamente um campeonato sub-23, força os clubes a trazerem atletas jovens, sendo um celeiro para revelar novos atletas. O Luverdense por exemplo, manteve alguns atletas do plantel que disputou a Copa Mato Grosso pela equipe, tiveram grande destaque na competição e foram mantidos no elenco.
A FMF não deveria estimular mais competições ou torneios mais longos nas divisões de base dos clubes profissionais ?
Para trabalharmos um campeonato com divisões de base, deve-se ter uma competição com o mesmo profissionalismo da categoria principal, para que dê algum resultado. Não é válido um trabalho de base apenas por fazer, ou somente para que haja participação, um trabalho extremamente profissionalizado. Há também uma grande frustração minha por parte de atletas de base, que não almejam jogar em clubes do Mato Grosso, mas sim em clubes de Série A do Brasileiro. O Luverdense está fazendo o caminho inverso. Por termos recursos e tempo limitados, a equipe está buscando atletas que atuam na base de grandes clubes e não vem sendo aproveitados nas equipes de origem, e estamos garimpando para atuarem no Luverdense. Para o estadual por exemplo, estamos trazendo um atleta da base do Corinthians e outro da base do Vasco da Gama para ajudar a equipe em 2012.
O que faltou ao clube este ano para subir a tão almejada Série B?
Faltou um matador, o goleador. O Luverdense jogou de igual para igual em todas as partidas, teve oportunidade clara que conquistar o acesso, porém faltaram os gols. Gostaria de deixar claro que a equipe não havia conquistado a vaga para disputar o quadrangular. Perdemos para o Rio Branco em casa e acabamos perdendo a classificação no primeiro momento. Porém corri atrás, e com ajuda de mato-grossenses que gostam de futebol, nós fizemos valer. Fomos até o STJD e conseguimos reverter uma situação a favor do futebol do estado de Mato Grosso. A minha luta foi para que o STJD e a CBF passem a respeitar os clubes, respeitem o futebol do estado, nós somos Brasil também, e não seria um “canetaço” de políticos que iria se mudar a lei. Depois de conquistada a vaga, tivemos uma correria muito grande. Tivemos dez jogos em 22 dias, sendo muito desgastante. Então faltou um goleador para a equipe e faltou a conquista da vaga ainda na primeira fase da competição para que não houvesse este desgaste no quadrangular da segunda fase.
O que deve mudar em 2012 para uma nova tentativa? A contratação do Eder Taques reflete uma mudança de mentalidade ou simplesmente de economia?
Para o próximo ano, a proposta do Luverdense é bem clara. A contratação de Eder Taques se deve ao trabalho que ele teve como técnico no estado, sempre alcançando boas colocações. Tenho conhecimento do trabalho que ele fez no interior de São Paulo e estou trazendo o Eder Taques confiando no trabalho dele, gostei de todas as conversas, sei que está motivado. Acredito que ele pode sim, ajudar o Luverdense a ascender para a segunda divisão do futebol brasileiro.
Qual sua expectativa para a Copa do Mundo em Cuiabá. De que forma o futebol de Mato Grosso pode capitalizar esse evento em seu benefício?
A partir de 2013, antes da Copa, ficará claro que teremos uma arena, um estádio para se fazer futebol de verdade no estado de Mato Grosso. Hoje, nenhum dos grandes clubes quer jogar no estado. Prova disso, foi a divulgação do calendário da Copa do Brasil. Os grandes clubes do futebol brasileiro não vem para o Mato Grosso pois não há um estádio a altura para receber um jogo de grande nível. A partir de 2013, teremos a Arena Pantanal, e algum clube irá jogar Copa do Brasil, Série B, e sabemos que num futuro muito breve, o Mato Grosso terá um clube na segunda divisão do futebol nacional. Pode ser o Cuiabá, Luverdense, União, Mixto. Sabe-se que teremos devido ao empenho das equipes. Como o Governo está investindo mais de meio bilhão na arena, o governo e empresários devem sim, apoiar algum clube do estado para chegar a elite.
Chegou a se cogitar a possibilidade de o Luverdense mandar seus jogos em Cuiabá. O que há de veracidade sobre isso?
O Luverdense pode vir a mandar seu jogos em Cuiabá sim, pelo seguinte fato: para jogarmos contra equipes da elite do futebol nacional, precisamos ter um estádio para receber futebol dessa qualidade. Estes clubes não vem jogar no Passo das Emas, que é o nosso estádio. Porém se isso houver, será no futuro. Pois hoje temos o nosso acanhado estádio, porém vem sendo muito útil para o Luverdense e muito nos tem ajudado, e se mandarmos jogos na capital, será no futuro, quando houver a arena, pois hoje o Dutrinha é inferior ao Passo das Emas.
O seu nome chegou a ser cotado para substituir Carlos Orione na FMF. O senhor seria candidato?
Em momento oportuno falaremos sobre o assunto, pois respeito e admiro o doutor (sic) Carlos Orione. Muita gente critica e fala mal da nossa federação. Falam que nosso futebol vai bem ou vai mal, devido a nossa federação. Não é isso. No Rio de Janeiro por exemplo, ninguém critica a federação quando Flamengo, Botafogo ou algum time do estado vai mal. O trabalho em campo é de responsabilidade dos clubes, e a FMF tem cumprido com o seu papel.
* Entrevista originalmente publicada no jornal A Gazeta
Fonte: SportSinop/ Valcir Pereira
Foto: Redação/SportSinop